La mineda Romana

06-10-2011 18:35

Este tópico é uma recuperação de um mais antigo que apresentei no velho fórum de numismática há uns anitos. 

A ideia continua a ser a mesma: simplificar e esquematizar de forma ilustrada o lugar e a designação que cada moeda imperial romana ocupou no sistema monetário do seu tempo. 

Em termos simples, o Império Romano foi uma estrutura histórica que se alongou durante cerca de cinco séculos: podemos espartilhar o império entre os anos 27 a.C. (data da atribuição do título de Augusto a Octávio) até 476 d.C. (data da deposição de Rómulo Augusto por Odoarco e consequente entrega das insígnias imperiais ao Império Bizantino). 

Como todos os tempos longos da história, esta estrutura foi percorrida por várias conjunturas que implicaram mudanças mais ou menos profundas na organização política, na sociedade e na economia. 

Dentro das alterações políticas e económicas, temos as reformas do sistema monetário. 

Se excluirmos os ajustes ponderais de Nero (por volta do ano 64 d.C.), a introdução do antoniniano, em 214/15, por Caracala e as reformas dos irmãos Constâncio II e Constante (c. de 348 d.C.), mais a reforma nas pratas, em 355, podemos definir as reformas imperiais do sistema monetário em três grandes momentos: 

1 - Reforma de Augusto 
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2 - Reforma de Diocleciano (c. 294 d.C) 
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3 - Reforma de Constantino I (c. 313 d.C.) 
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Cada uma destas reformas foram inseridas em contextos em que os sistemas anteriores já se encontravam em declínio completo. Não obstante, algumas referências continuaram a ser usadas, quanto mais não fosse como moeda de conta

É o caso do denário, que continua a ser citado por documentação do tempo de Diocleciano, nomeadamente no seu édito sobre os preços (de 301 d.C.), em que os preços dos bens são-nos apresentados em denários: 

https://www.fh-augsburg.de/~harsch/Chronologia/Lspost04/Diocletianus/dio_ep_i.html 

No entanto, isto não significa que Diocleciano tenha cunhado ou mandado cunhar denários, nem em prata, nem em bronze, como por vezes é referido. 

O denário no final do século IV era uma moeda extinta, as referências a denários de bronze dirão possivelmente respeito a fólis reduzidos, cunhados já depois do ano 300, contudo, são enquadrados no mesmo momento cronológico dos fólis grandes, de 294. Essa leitura, não tem, contudo, em conta as datações precisas elaboradas por Sutherland e Carson no vol. VI do Roman Imperial Coins (ab. RIC). 

Se atendermos a essas datações, percebemos que os bronzes mais pequenos da tetrarquia (exceptuando os radiados) são simples deflações dos grandes fólis. Leitura esta que encaixa muito bem com a conjuntura de caos económico que se sucedeu à promulgação do célebre édito de 301. 

Em termos comparativos, podemos usar o exemplo do Escudo português cunhado entre 1969 e 79 e colocá-lo lado a lado com o mesmo Escudo cunhado entre 1981 e 86. Mesmo que os critérios da economia moderna sejam diferentes, a redução física da moeda é evidente, sem que com isso possamos falar de moedas distintas, é o mesmo Escudo, o mesmo padrão, contudo, num espaço de tempo bem curto, perdeu valor e tamanho. 

Outra situação semelhante (embora bem mais complicada de documentar) é o caso da introdução das maiorinas em 348 que nos surgem muitas vezes misturadas com os centenionais. 

A única referência à maiorina e aos centenionais, é muito tardia, e está presente num édito do Códice de Teodósio (https://www.gmu.edu/departments/fld/CLASSICS/theod9.html) ver CTh.9.23.1.3 

Em todo o caso, a documentação parece sugerir uma distinção entre os centenionais e as maiorinas. 

E agora, em termos de brincadeira (e para espicaçar o espírito de investigador), vou fazer um concurso: 

Os dois primeiros foristas a responderem a estas questões, receberão uma prenda: 

- Quanto custava uma porção de cerveja no ano 301? Quero os valores em follis e não em denários.

- O mesmo exercício para o valor de um dia de trabalho de um camponês (operário rústico).
 

As ferramentas para resolver as questões estão no texto e nos links que disponibilizei.  
Boa sorte!